A Politização da Vida - Hannah Arendt
Hannah Arendt percebe com clareza o nexo entre domínio totalitário e aquela particular condição de vida que é o campo, mas o que ela deixa escapar é que o processo é, de alguma maneira, inverso.
O conceito de “vida nua” ou “vida sacra” é o foco através do qual procuraremos fazer convergir os seus pontos de vista. Política e vida, “politização da vida” o caráter fundamental da politica dos Estados totalitários e o rio da biopolítica, que arrasta consigo a vida do homo sacer, ocorre de modo subterrâneo. Uma mesma reivindicação da vida nua conduz, nas democracias burguesas, a uma primazia do privado sobre o público e das liberdades individuais sobre os deveres coletivos nos Estados totalitários, o critério político decisivo e o local por excelência das decisões soberanas.
As distinções políticas tradicionais perdem sua clareza e sua inteligibilidade r o renascimento do fascismo na Europa, sob novas formas, encontram aqui a sua raiz.O campo surgirá como o paradigma oculto do espaço político da modernidade. Corpus é o novo sujeito da política, e a democracia moderna nasce propriamente como reivindicação e exposição deste “corpo”.
A nascente democrática europeia colocava no centro de sua luta com o absolutismo não bíos, a vida qualificada de cidadão, mas zoé, a vida nua em seu anonimato, apanhada, como tal, no bando soberano. Esta é a força e, ao mesmo tempo, a íntima contradição da democracia moderna: ela não faz abolir a vida sacra, mas a despedaça e dissemina em cada corpo individual, fazendo dela a aposta em jogo do conflito político. A democracia responde ao seu desejo obrigando a lei a tomar sob seus cuidados este corpo. Corpus é um ser bifronte, portador tanto da sujeição ao poder soberano quanto das liberdades individuais.
Os Direitos do Homem e a Biopolítica
Hanna Arendt não vai além de essenciais acenos ao nexo entre direitos do homem e Estado nacional , e a sua indicação permaneceu assim sem seguimento.
As declarações dos