A obra de arte na época de sua produtividade técnica.
Em todas as artes há uma parte física, que não mais pode ser subtraída à intervenção do conhecimento e do poderio modernos. Nem a matéria, nem o espaço, nem o tempo são, há cerca de vinte anos, o que mais haviam sido. É de se esperar que tão grandes novidades transformem toda a técnica das artes, agindo assim sobre a própria invenção e chegando mesmo, talvez, a maravilhosamente alterar a própria noção de arte. A obra de arte foi sempre suscetível de reprodução. O que homens haviam feito, outros podiam refazer. Em todas as épocas discípulos copiaram obras de arte a título exercício; mestres as reproduziram para assegurar-lhes difusão; falsários as imitaram para assim obter um ganho material. As técnicas de reprodução, entretanto, são um fenômeno inteiramente novo que nasceu e se desenvolveu no curso da história, por etapas sucessivas, separadas por longos intervalos, mas num ritmo cada vez mais rápido. Com a litografia, as técnicas de reprodução fizeram um progresso decisivo. Pela primeira vez a mão se liberou das tarefas artísticas essenciais, no que toca à reprodução das imagens, as quais, doravante, foram reservadas ao olho fixado sobre a objetiva. A litografia abria o caminho para o jornal ilustrado, na fotografia, já está contido em germe o filme falado.
Com o século XX, as técnicas de reprodução atingiram um tal nível que estão agora em condições não só de aplicar a todas as obras de arte do passado e de modificar profundamente seus modos de influência, como também de que elas mesmas se imponham como formas originais de arte. Sob esse ponto de vista nada e mais revelador do que a maneira pela qual duas de suas diferentes manifestações a reprodução da obra de arte cinematográfica. A própria noção de autenticidade não tem sentido para uma reprodução, técnica ou não. Sob a forma de foto ou de disco, ela permite sobretudo aproximar a obra do espectador. Quando trata-se de obra de arte, essa desvalorização a