A negação da morte
A Negação da Morte: Uma Abordagem Psicológica da Finitude Humana (1973), de Ernest Becker, é um livro iluminador que analisa, a partir de uma abordagem multidisciplinar fincada na psicanálise, o problema da morte na vida humana, a relação íntima e problemática que se configura entre o homem e esta realidade tão aterradora quanto inescapável, da qual ele possui uma angustiada consciência. O autor, que em 1974 recebeu o prêmio Pulitzer por esta obra, teve ali a pretensão de reunir e sistematizar todo o conhecimento sobre o problema da morte produzido pelas diferentes áreas do saber ao longo da história, das ciências humanas, passando pela filosofia, à religião. O livro parte da premissa de que “a idéia da morte e o medo que ela inspira perseguem o animal humano como nenhuma outra coisa”, representando, em realidade, “uma proposição universal da condição humana” (BECKER 2007: 11). Nesta perspectiva, as diferentes culturas constituem sistemas simbólicos complexos que têm por função negar a realidade da morte, permitindo assim que as pessoas vivam com a ilusão de estarem imunes ao Inevitável, sem o fardo de sua constante e penosa consciência. O título em si já sugere uma idéia central no livro: o conceito de mentira vital serve para explicar que, a morte desempenhando um papel crucial na existência, a tendência humana mais instintiva é negá-la através de artifícios psicológicos subconscientes de auto-engano e auto-ilusão. O conceito de heroísmo também é central e atravessa toda a trama de análise do livro. Heroísmo, aqui, designa a atitude humana fundamental (poder-se-ia dizer arquetípica) frente ao mundo, a vida e a perspectiva da morte, definindo-se como um ideal de coragem e sabedoria que varia de acordo com as culturas e os povos; aplica-se como uma chave de interpretação psicológica e antropológica, segundo a qual “nossa tendência central, nossa principal tarefa neste