A Mitificaçao do Heroi nos Lusiadas

A Mitificação do Herói n’Os Lusíadas
Numa epopeia como Os Lusíadas de Luís de Camões é fundamental a mitificação e o enaltecimento do herói – os Portugueses – como forma de engrandecimento de toda a acção épica.
Com efeito, Camões começa logo por elogiar o herói Lusitano na Proposição, ao anunciar que tem como objectivo cantar «o peito ilustre Lusitano», e ao salientar a grandiosidade dos seus feitos, marcados por um esforço e uma valentia sobre-humanos – «Mais do que prometia a força humana» –, que lhe permitiram atingir a imortalidade – «Aqueles que por obras valerosas/Se vão da lei da Morte libertando» – e ascender à condição divina, de tal modo que até os Deuses a si se submeteram – «A quem Neptuno e Marte obedeceram».
Um elemento crucial na exaltação do herói é a superação dos heróis das epopeias antigas, acentuada pelo poeta ainda na Proposição – «Cesse tudo o que a Musa antiga canta,/Que outro valor mais alto se alevanta» – e, posteriormente, na Dedicatória – «(…) o ilustre Gama,/Que para si de Eneias tomou a fama» –, e que resulta da diferença do carácter histórico e real dos feitos dos Portugueses face àqueles, meramente ficcionais, relatados nas restantes narrativas épicas – «As verdadeiras vossas são tamanhas,/Que excedem as sonhadas, fabulosas».
No episódio do Consílio dos Deuses, Baco opõe-se ao sucesso dos Portugueses por medo de ser suplantado pelas façanhas deste povo – «(…) conhecendo,/Que esquecerão seus feitos no Oriente,/Se por lá passar a Lusitana gente» – o que constitui uma forma de glorificação muito eficaz, pois não há herói mais grandioso do que aquele que é capaz de superar as proezas dos Deuses.
No episódio do Fogo de Santelmo, pelo contrário, a celebração da força e audácia sobrenaturais dos Portugueses é feita de uma forma mais directa, através do relato das adversidades, como as «trovoadas temerosas», as «noites tenebrosas» e as «tempestade[s]», e da forma como as enfrentaram.
Em suma, ao longo da obra, o poeta vai destacando