mitificação do herói
Texto Complementar II
I
Na obra “Os Lusíadas”, o herói da epopeia é apresentado na Proposição (Canto I, est. 1-3), na qual o poeta menciona aqueles que se propõe cantar: “(..)o peito ilustre Lusitano, /A quem Neptuno e Marte obedeceram.” A figura do herói épico nacional caracteriza-se, pois, pelos feitos grandiosos, nunca antes realizados por humanos, pela conquista da imortalidade, devido a esses feitos, pela vulnerabilidade dos deuses em relação aos portugueses, num anúncio da ascensão dos homens à condição divina, como acontecerá na ilha dos Amores, e também pela superação dos heróis das epopeias antigas: “Cesse tudo o que a Musa antiga canta/ Que outro valor mais alto se alevanta”. Na Dedicatória (Canto I, est. 6-18), o poeta dedica o poema a D. Sebastião, reafirmando a natureza histórica do seu canto; com efeito, a epopeia camoniana não apresenta um carácter lendário como acontecera nas epopeias antigas; à obra do poeta está subjacente um fundo histórico – a História de Portugal – que irá adquirir a forma de uma narração épica. No Consílio dos Deuses no Olimpo (Canto I, est. 19 – 41), o herói nacional é enaltecido, sobretudo, através da oposição de Baco. Na realidade, o facto de um deus temer que a sua glória seja destruída pelos humanos serve inevitavelmente a construção do herói: “(…) O padre Baco ali não consentia/ (…) conhecendo/ Que esquecerão seus feitos no Oriente/ Se lá passar a Lusitana gente”. Com efeito, para além de todo o mérito dos nautas lusos, que é reconhecido por outros deuses (Vénus, Marte, Júpiter, que, no final da reunião, decide que os portugueses seriam ajudados a alcançar “a terra que buscavam”, é o receio de Baco que engrandece a gente lusa, conferindo-lhe um estatuto que culminará com a superação da própria condição humana realizada pelo “bicho da terra tão pequeno”, frágil e impotente perante as forças cósmicas. O discurso do Velho do Restelo, ainda que traduza a visão de uma parte