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Há entretanto na Mensagem dois tipos de heroísmo. Normalmente os heróis agem pelo instinto, sem terem a visão do sentido e alcance dos seus actos na marcha dos tempos: Viriato é já portador do instinto obscuro que vai animar o Conde D. Henrique: “Todo o começo é involuntário./Deus é o agente./O herói a si assiste, vário/E inconsciente”. Já D. Duarte é um herói voluntário, unidade moral que se opõe ao mundo, cumprindo o seu dever contra o Destino e gozando a recompensa apenas na ideia de o ter cumprido. Subordinado à “regra de ser Rei”, a si mesmo se edificou.
A Mensagem é também um elogio do Português, desvendador e dominador de mundos. O que o define não é a ânsia do poderio terreno mas a fome de Absoluto, um ideal cujo escopo pertence à “alma interna”. D. Pedro, regente de Portugal, “indiferente ao que há em conseguir/Que seja só obter”, vive e morre “fiel à palavra dada e à ideia tida. Tudo mais é com Deus!” Essa fome de Absoluto põe constantemente o dilema: Vida ou Morte, Tudo ou Nada. (…)
Como n’Os Lusíadas, a teoria do heroísmo é uma teoria de sacrifício. Mas o “caminho da virtude alto e fragoso” tem em Camões uma substância ético-cristã que falta na Mensagem. Ao cabo dele estão recompensas concretas: na Terra uma fama perene, “as honras imortais e os graus maiores”; no céu, a beatitude. Pelo contrário, os heróis da Mensagem olham e agem obsidiados por um misticismo de objecto longínquo, indeterminado. Não gritam a plenitude humana do triunfo. A insatisfação é o seu fado: sem a grandeza de alma que os torna infelizes nada vale a pena.
Jacinto do Prado Coelho, em Diversidade e Unidade em Fernando Pessoa
O heroísmo em “Os Lusíadas”
Os aspectos do heroísmo relacionados com a coragem, com as virtudes militares, são descritos a partir da experiência, a partir da realidade concreta dos portugueses que Camões conheceu em geral por tradição histórica.
Mas o elemento que diz respeito à