a metafísica e o processo da ciencia
Marcos Vinicio Guimarães Giusti
IFF; HCTE/UFRJ marcos_giusti@uol.com.br INTRODUÇÃO
Se como afirma Heisenberg “a mecânica newtoniana começa com o conceito de substância”
(2009, p. 35), quando se trata de mecânica quântica esse conceito parece não mais corresponder aos fundamentos ontológicos da teoria. Nesse ponto, talvez devamos seguir o caminho que nos indica
Lee Smolin, ao afirmar que “o universo é feito de processos e não de coisas” (2002, p. 58). Newton fundamentou a sua mecânica na ideia de que um corpo consiste em uma determinada “quantidade de matéria”, a qual pode ser designada como a sua massa. Com a mecânica quântica, a própria noção de “quantidade de matéria” precisa ser reexaminada, já que existem partículas sem massa, como os bósons, que propagam todas as forças do Universo. Portanto, consideramos que uma ontologia que privilegie os processos mais do que as substâncias seja essencial para o estabelecimento dos fundamentos metafísicos da teoria quântica.
O PRIMADO DO SUBSTANCIALISMO NA CIÊNCIA MODERNA
De Aristóteles a Kant, e talvez um pouco mais além, o conceito de uma substância individual desempenhou um papel de destaque nas tentativas dos metafísicos de caracterizar a realidade e pensar reflexivamente sobre os termos de tal caracterização. Qualquer tentativa de realizar uma análise da substância deve debruçar-se sobre os esforços desses grandes filósofos do passado na caracterização desse conceito.
Não se pode negar a importância da metafísica de Descartes para o desenvolvimento da ciência moderna, pelo menos no aspecto epistemológico. Ao considerar a existência de duas substâncias distintas, a mental e a material, e ao estabelecer o método para a ciência, o filósofo francês traçou as linhas gerais que o pensamento científico posterior adotaria.
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A metafísica cartesiana instaurou uma teoria do conhecimento, na qual o mundo material (a res extensa) assumiu a categoria de objeto