A lingua de eulalia
Selma
Sírio Possenti (UNICAMP)
Jornal de Jundiaí, dezembro de 1997
Originalmente disponível em http://marcosbagno.com.br/site/?page_id=205
A Editora Contexto acaba de lançar um livro precioso, A língua de Eulália, novela sociolingüística. O autor é Marcos Bagno. O livro é bom por vários motivos: a) foi escrito em forma de novela; o autor pode não ser um grande literato, mas não tropeça; cria um cenário bastante aceitável e, embora o livro contenha pequenas aulas, elas são suficientemente inteligentes para serem lidas com prazer e proveito; é pena que ainda pertençam de fato ao domínio da ficção, e por critérios que infelizmente não são literários; b) é legível por não especialistas, mas é rigoroso, sem concessões; os conceitos necessários são expostos de forma clara; c) defende teses novas para a maioria das pessoas, mas com o bom senso dos que sabem do que falam; finalmente, d) traz um bom número de exemplos sobre fatos de variação e de mudança da língua portuguesa, organizados de forma extremamente inteligente; além disso, estabelece laços firmes entre variação e mudança, o que, se não é novo, nem todos conseguem fazer bem.
Vou ater-me à apresentação de alguns dados interessantíssimos. Por exemplo, na página 41, cita seis versos de Camões que contêm formas em que o “l” é “trocado” pelo “r”: frauta, frechas, Ingrês, pranta, pruma, pubrica. E pensar que tem gente que pensa que o rotacismo (o livro explica) é coisa recente e de caipira… Outros exemplos interessantes têm a ver com acréscimos de sons no início de palavras; também parecem de “ignorantes” de hoje, mas também são de Camões. Aí vão alguns: ajuntar, alembrou, alevantando, alimpamos, amostrando (p.115). E