A Li Rica Camoniana
Influências na lírica camoniana:
Dante (1265-1321) – insinuou-se na poesia portuguesa através do “dolce stil nuovo, em que o amante se compraz numa atitude de contemplação e admiração profundas pela mulher louvada.
Trata-se de um amor puro, de comunhão espiritual com a amada.
Petrarca (1304-1374) – também recebeu influências das doutrinas filosóficas neoplatónicas; louva o amor em si mesmo, criando uma imagem idealizada da mulher, sempre bela e perfeita – “donna angelicata” – com a qual procura uma fusão das almas sem lugar para o amor sensual. A mulher é sempre de tez nívea, faces rosadas, cabelos loiros, olhos azuis e carateriza-se pela serenidade, graciosidade e “doçura de riso”. Esta visão ideal da mulher traduz também a conceção platónica do amor ideal e inacessível. Vestígio inconfundível de paltonismo: a afirmação da inatingibilidade do objeto desejado, ou seja, a permanência do desejo.
Neoplatonismo cristão – Platão considerava a existência de dois mundos: o mundo sensível, que nos rodeia, e o mundo inteligível, das ideias puras, dos arquétipos do mundo inteligível. Este mundo inteligível como está resumido em Deus, a ideia Suprema, a Suprema beleza, a Suprema
Bondade e Justiça. Por isso, cumpria habituarmo-nos (...) a não nos prendermos com demasiado ardor à beleza particular, mas a procurarmos a beleza geral. E porque a alma participa na paixão mais que o corpo, devíamos amar a beleza espiritual mais do que a material (...).
No mundo sensível, na beleza da natureza, no encanto físico e moral da mulher amada, não devia ver-se, portanto, mais do que um reflexo da beleza divina.
Também em Camões, a mulher é um ser superior, inatingível, de beleza inefável e, portanto, este assume uma atitude de submissão, dada a distância que os separa.
Em virtude desta imagem idealizada da mulher, o amor traduz-se numa contemplação interior (sem aspiração a uma realização física) de um ser quase divino, o que origina sentimentos contraditórios de extrema