Análise de Poemas Camonianos
A vertente tradicional da lírica camoniana, cultivada pelo poeta, caracteriza-se pela espontaneidade, pela leveza e pela simplicidade, típicas das composições dos poetas da chamada Poesia Palaciana, colecionadas no Cancioneiro Geral, que utilizavam a redondilha maior e menor com grande habilidade. Assim, e por influência tradicional, escreveu vilancetes, cantigas, esparsas, endechas, trovas. Fez uso da medida velha e cultivou o verso de cinco sílabas métricas (redondilha menor) e de sete sílabas métricas (redondilha maior). As temáticas tradicionais e populares usadas por Camões são: a menina que vai à fonte; o verde dos campos e dos olhos; a natureza; o amor, a saudade e o sofrimento, o ambiente palaciano, a exaltação da beleza de uma mulher de condição servil, de olhos pretos e tez/pele morena (a “Barbara, escrava”); a infelicidade presente. O valor das redondilhas camonianas radica na habilidade com que desenvolve o tema oferecido pelo mote. Este apresenta-se sob o aspeto de uma estrofe curta, inspirado numa composição poética, palaciana, quando não é da própria autoria do poeta.
O vilancete, que se segue, é uma composição na “medida velha”
Mote
Descalça vai pera a fonte
Leanor pela verdura,
Vai fermosa e não segura.
Voltas
Leva na cabeça o pote,
O testo nas mãos de prata.
Cinta de fina escarlata,
Sainho de chamalote,
Traz a vasquinha de cote
Mais branca que a neve pura.
Vai fermosa, e não segura.
Descobre a touca a garganta,
Cabelos de ouro entrançado,
Fita de cor de encarnado,
Tão linda que o mundo espanta.
Chove nela graça tanta,
Que dá graça a fermosura.
Vai fermosa, e não segura. Luís de Camões
Tema: exaltação da beleza de Leanor.
Assunto: o sujeito poético traça o retrato de Leanor, quando esta vai buscar água à fonte. A descrição da sua beleza e graciosidade