A integração do negro na sociedade de classes
A Integração do Negro na Sociedade de Classes, de Florestan Fernandes, foi publicada em 1965 e, originariamente foi sua tese de cátedra em sociologia e representa um momento de viragem nas análises sobre a questão racial no Brasil. Situando a problemática na transição da ordem social escravocrata e senhorial para o desenvolvimento posterior do capitalismo, evidencia-se a condição de marginalidade dos negros e dos mulatos.
Para tal, elege a cidade de São Paulo como universo empírico privilegiado e realça uma situação paradigmática de exclusão social dos negros, por tratar-se do primeiro centro urbano especialmente burguês, regido por mentalidade mercantil, iniciativa individual e liberalismo econômico, ingredientes que respaldavam o progresso encetado no período em questão.
Nesse quadro, os impasses vivenciados por negros e mulatos no esforço de inserção na nova ordem social, é conseqüência de um estilo de vida individualista e competitivo, construído pelo novo regime de relações de produção.
Nesses limites, não cabiam nem o escravo e o liberto, nem o "negro" ou o "branco pobre" como categorias sociais. Tratava-se de uma revolução das elites, pelas elites e para as elites; no plano racial, de uma revolução do branco para o branco.
A rápida transformação ocorrida na cidade de São Paulo, entre o fim do século 19 e o começo do 20, impossibilitou a inserção do negro e do mulato no estilo urbano de vida. Ou, nos termos do autor, a heteronomia presente na "situação de castas", típica da condição escrava, impediu aos ex-escravos a assimilação das potencialidades presentes na "situação de classes". A extinção da escravatura não promoveu a reintegração dos egressos, relegando-os ao seu próprio destino, desterrados para as sombras da sociedade que se modernizava. Paralelamente a esse posicionamento social ambíguo ao qual eram empurrados, desenhavam-se os contornos do Brasil moderno e as direções que se pretendiam imprimir