A imitação da rosa
Edna Anita Lopes Soares - UEL/CAPES
"Então escrever é o modo de quem tem a palavra como isca: a palavra pescando o que não é palavra. Quando essa palavra morde a isca, alguma coisa se escreveu. Uma vez que se pescou a entrelinha, podia-se com alívio jogar a palavra fora. Mas aí cessa a analogia: a não palavra, ao morder a isca, incorporou-a. O que salva então é ler 'distraidamente'." Clarice Lispector
Clarice é o grande nome da literatura existencialista, ou como define Costa Lima, autora de "romance introspectivo". Esta sua tendência, de observar ou examinar a vida interior pelo próprio indivíduo, leva-a a interessar-se pela psicologia de cada personagem.
A autora colocou no centro da criação o problema da busca de uma linguagem nova e especial, analítica, para traduzir a vida interior. Sabe-se que em Clarice nada é casual, gratuito, suas palavras, expressões são ,como ela mesma admite, jogadas como iscas. Formam uma verdadeira teia , em que cada fio é imprescindível para o trabalho final. Walter Benjamin diz que:
"a narrativa (...) é ela própria ,num certo sentido, uma forma artesanal de comunicação (...). Ela mergulha a coisa na vida do narrador para em seguida retirá-la dele. Assim se imprime na narrativa a marca do narrador, como a mão do oleiro na argila do vaso"
(BENJAMIN,1987:205).
A característica da escritora está na utilização de recursos técnicos como: a análise psicológica; o monólogo interior; a introspecção na análise das paixões e movimentos da alma; o mergulho no psiquismo, relegando para segundo plano as circunstâncias exteriores e o enredo de seus textos criando uma atmosfera densa, hermética. Affonso Romano de Sant'Anna cita a respeito de Clarice que:
"sua literatura não é realista, mas simbólica, na medida em que o texto é o instaurador de seus próprios referentes e não se interessa em refletir o mundo exterior