A repressão em clarice lispector e hilda hilst

Freud apontava em seus estudos que grande parte da infelicidade humana é proveniente de três fatores: a prepotência da natureza, a fragilidade do corpo e a insuficiência das normas que regem os vínculos humanos na família, no Estado e na sociedade.[1] Este último fator serve como ponto de partida para contos de duas insignes escritoras da literatura brasileira, Clarice Lispector e Hilda Hilst. Clarice traz em seu conto “A Imitação da Rosa”[2] uma mulher que, após um período de recuperação de uma instabilidade emocional, tenta retornar à vida cotidiana, enquanto tenta provar às pessoas que estão a sua volta e a si própria que realmente está livre de seus distúrbios, embora ainda sofra com a presença deles. Hilda, por sua vez, apresenta em “Rútilo Nada”[3] a estória de um homem que entra em uma relação amorosa com o jovem namorado de sua filha e das trágicas consequências acarretadas por este romance. Em ambos os contos, as personagens escondem sentimentos e características para não fugir do padrão de normalidade imposto pela sociedade. Cientes de que vivem em um mundo em que aqueles que fogem de certos moldes podem ser severamente punidos Laura, a protagonista de “A Imitação da Rosa”, e Lucius Kod, o personagem principal de “Rútilo Nada”, reprimem anseios e traços de sua personalidade para que não se tornem párias. No caso de Laura, vê-se uma constante preocupação com o conforto dos outros. Em vários momentos, pode-se achar que ela está mais preocupada com a felicidade do marido que com a sua própria. Além disso, há também a obsessão por não ser notada pelas demais pessoas. Mas por que esse desejo de passar despercebido? Ora, alguém comum, normal não chama a atenção alheia e o maior desejo de Laura é ser considerada normal. Esse sentimento é bem representado no trecho em que a personagem lê “A Imitação de Cristo” e pensa: “quem imitasse Cristo estaria perdido”[4]. Ela acredita que alguém que imitasse Cristo estaria perdido, uma vez que ele se fez notar,