A identidade etnica e os indios no brasil
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO – Departamento de História
Identidade étnica e os índios no Brasil
MÁRCIO ANDRÉ BRAGA
Universidade do Vale do Rio dos Sinos
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urante muito tempo, o olhar das ciências sociais e humanas sobre a questão indígena foi perpassado pela discussão e torno da exploração da mão-de-obra, das possibilidades de assimilação cultural e econômica, dos conflitos entre índios e as populações circunvizinhas de seus territórios e, principalmente, da posse da terra. Em paralelo a essas discussões, surge uma questão importante: Quem é o índio no processo histórico? Todas as discussões anteriores — função, assimilação, fricção interétnica, território
— pressupõem a existência de indivíduos, coletividades ou instituições, identificados como diferentes.
A seguir, farei algumas considerações sobre formulações conceituais pertinentes à análise das questões referentes às atribuições de identidade resultantes da chegada do europeu à América, referindo rapidamente os processos de interação cultural e desconstrução da identidade indígena no Brasil, decorrentes do contato entre índios e brancos. Por fim, levantarei o ressurgimento da identidade étnica, que, no caso dos indígenas, culminou com a garantia de direitos a partir da década de 1980.
A identidade pessoal e social como uma construção da relação com o outro
A identidade é vista pelos antropólogos e sociólogos a partir de duas dimensões, a pessoal e a social, que, embora interconectadas, realizam-se em níveis diferentes.
A primeira dessas dimensões, a pessoal, serve de base para a posterior construção de uma identidade de grupo (étnico, social, profissional...). Ela é
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estabelecida sempre de forma relacional, visto que, para se estabelecer o eu, é imperioso poder determinar as diferenças em relação ao outro. Portanto, as determinações que estabelecem a