A Hora Da Estrela
Baudelaire é reconhecido como um dos mais influentes e conscientes artistas que refletiram sobre a Modernidade. Sua maneira representativa, pela qual ele expunha em sua obra a estrutura e as peculiaridades de sua época, foi basilar para a compreensão da arte e da vida moderna. O olhar de Baudelaire, destituído de halo, parece nos querer mostrar toda a realidade da cidade moderna, a verdade da vida sem filtro algum, enxergando a natural beleza e poesia que há em cada indivíduo que perambula pelas sarjetas, cafés, vielas da cidade.
Nesse seu de sacralizado e, por conseguinte, moderno olhar desponta a alteridade. Podemos observar isso perfeitamente em seu pequeno poema em prosa “Os olhos dos pobres”, no qual Baudelaire(imagem à direita)incorpora a visão daqueles que estava a observar. Ele não somente os observa, ele tem a sensação que a visão dos pobres lhes proporciona. Introduzi Baudelaire para ilustrar, brevemente, a questão da alteridade em seu texto, pois é um aspecto também presente no romance de Clarice em questão.
No romance A hora da Estrela, podemos observar esse mesmo mecanismo de transposição de identidades, porém, esse jogo é feito em três planos: o do autor (Clarice), o do narrador (Rodrigo), e o da personagem (Macabea). Clarice não se mantém oculta atrás da persona de Rodrigo que cria para narrar o romance, como podemos notar na dedicatória, na qual ela revela ser a autora “na verdade”. Fato que inclusive quebra o pacto de realidade que buscavam os realistas, de que a história deve se narrar por si mesma. Dessa forma, Clarice cria um narrador que expõe o seu processo criativo e mostra o autor que ainda há por trás do narrador, criando, também, três planos narrativos: o da imigrante nordestina, o do escritor Rodrigo, e o do processo de composição da narrativa.
Rodrigo se projeta na personagem de Macabea para poder narrar os fatos, muitas vezes nos revelando que ele se permite pensar por ela, pois