A geometria do sensível
“Quadro nenhum está acabado, disse certo pintor; se pode sem fim continuá-lo, primeiro ao além de outro quadro
que, feito a partir de tal forma, tem na tela, oculta, uma porta que dá a um corredor que leva a outra e a muitas outras.”
Poesia crítica antologia, Melo Neto, João Cabral de.
Em 1922 era inaugurada no Brasil a Semana de Arte Moderna. Em sintonia com os manifestos provindos das vanguardas históricas europeias, um grupo de artistas, intelectuais e escritores desejavam “criar” uma iconografia tipicamente brasileira, embora, muitos críticos da época afirmassem que nada mais teria feito o grupo que repetir quase literalmente tais vanguardas, enquanto outro grupo, posteriormente, afirmasse que a questão do movimento modernista no Brasil não era, todavia, tão datável e nomeável como a História propagava parecer, fora, todavia, a primeira proposição que prevaleceu durante muito tempo e que serviu para legitimar ainda mais esta versão. Isto porque, o motivo de se transformar esta semana em um marco definitivo e legítimo como sendo o início da instauração do modernismo no Brasil possuía raízes mais profundas que visitam o cenário político da época. Afinal os modernistas possuíam a bandeira dos valores nacionalistas que eram identificados com o regime autoritário de Vargas.
Contudo, entendamos que para os envolvidos no movimento, ou seja, aos artistas cabia a resolução do paradigma de absorver e compreender influências europeias sem perder a liberdade estética e conceitual da obra e, principalmente ousar revelar uma “iconografia brasileira” que deveria ser identificada nesta produção. A este respeito nos fala Tadeu Chiarelli (Mam (na) oca- Arte brasileira do acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo, p. 21 (2006)):
Suas produções, na verdade, fundamentaram o conceito de arte moderna brasileira na conciliação entre necessidade de criar uma “iconografia” tipicamente brasileira (uma