A estrutura do diálogo como ponto de partida da ética
A grande referência, para os gregos, em relação a um ideal de formação é compreendida pelo termo paidéia. A acepção de paidéia é imprescindível para qualquer reflexão sobre a educação grega. Vocábulo especificamente cunhado na Grécia clássica, paidéia remete-se para uma dada acepção de homem, que conjuga, sob uma única referência, a idéia de criação humana, sua formação, o desenvolvimento de patamares de excelência, fosse esta física, intelectual ou moral, bem como - a princípio - o lugar do indivíduo na cidade, no que toca à partilha de tradições e de valores, de educação, de preferência e de gosto, de ideal estético e de referências culturais. Enfim: símbolos, ritos e mitos; tudo isso compunha o vasto significado do original termo grego.
Postular o ideal da paidéia supunha, por ser assim, conceber um juízo de si como potência capaz de atualizar em pleno ato as virtuais capacidades. Mas a paidéia remetia também para o outro. Remetia à interação entre a pessoa e o outro. Recolocava no justo meio o ‘inter esse’. O indivíduo vivia sua mais justa forma de ser quando dialogava consigo mesmo, em busca do outro eu. Nesse outro eu, a consciência dirige-se para fora e para além de si. E porque nos torna outros, acionar a consciência requer interpelar a alteridade. Aí se põe o mais nobre dos diálogos: aquele que cotidianamente coloca em confronto o eu consigo próprio. Diz Hanna Arendt que, por isso, “Sócrates contava com dois insigths, um deles contido na palavra do Apolo de Delfos, ‘conhece-te a ti mesmo’, e o outro exposto por Platão (e com eco em Aristóteles): ‘É melhor estar em desacordo com o mundo todo do que, sendo um, estar em desacordo comigo mesmo’. Esta última é a frase-chave para a convicção socrática de que a virtude pode ser ensinada e aprendida” (Arendt, 2002, p.100).
O presente trabalho versa sobre o tema da ética na Grécia clássica. Procura-se depreender da reflexão grega sobre a moral o motivo