A educação ética-filosófica no ensino médio
RESUMO: A sociedade contemporânea está em crise – não é mais regida por valores comuns, sua autorepresentação está esgotada. Por isto, a reintrodução da filosofia no ensino médio é vista por muitas teorias educacionais como a possibilidade de formação ética dos educandos, ou seja, como uma espécie de panaceia. Mas até qual ponto o ensino ético-filosófico pode realmente ajudar? Este é o tema que pretendo tratar neste texto.
PALAVRAS-CHAVES: Ética. Crise. Filosofia.
Citado em documentos oficiais como a LDB 9394/96, onde se afirma que ele deve ser tratado como tema transversal, e igualmente nos Parâmetros Curriculares Nacionais, onde é visto como parte do processo formativo da pessoa humana, o ensino da ética é tema recorrente de indagações pedagógicas. Na Grécia antiga, era grande a preocupação com a formação ética dos cidadãos, principalmente no âmbito da polis democrática. A paideía era então vista como uma prática coletiva: pólis andra didaskei, é a polis quem educa o cidadão, dizia Simônides. Como escreve Lilian do Valle (2001, p.180), referindo-se a Atenas: «... o grande educador é, antes de tudo, a própria polis, a comunidade dos cidadãos que a todos ensina a virtude, ao encarná-la cotidianamente, tornando-a um hábito». Esta é a teoria defendida por Protágoras, como nos mostra Platão no diálogo que leva o nome do famoso sofista, resultando daí a necessidade de que todos forneçam bons exemplos, já que disto depende a democracia.[1] Platão, como sabemos, não compartilhava dos ideais democráticos – ele recusava a educação prática, pois considerava que a via real para a virtude era o conhecimento. Com isto, Platão introduzia, no seio da cultura democrática, e contrariamente à posição defendida por Protágoras[2], a noção de que há especialistas em poder: apenas os que conhecessem poderiam governar. Assim, tanto quanto no discurso corrente da polis ateniense, quanto na posição platônica ética