A dominação masculina
BOURDIEU, P. Dominação masculina. Bertrand Brasil: Rio de Janeiro: 2009. Em “A Dominação Masculina” o antropólogo e sociólogo Pierre Bourdieu trata do androcentrismo enquanto questão cultural e social extremamente arraigada nas sociedades contemporâneas, utilizando como exemplo a sociedade cabila1, “como instrumento de um trabalho de socioanálise do inconsciente androcêntrico capaz de operar a objetivação das categorias deste inconsciente” (Bourdieu, p. 13). Os camponeses dessa sociedade “representam uma forma paradigmática da visão ‘falo-narcísica’ e da cosmologia androcêntrica, comuns a todas as sociedades mediterrâneas e que sobrevivem, até hoje, mas em estado parcial e como se estivessem fragmentadas, em nossas estruturas cognitivas e em nossas estruturas sociais” (Bourdieu, p. 14)
O autor enxerga na dominação masculina o que ele denomina de “violência simbólica”, um tipo de “violência suave, insensível, invisível a suas próprias vítimas, que se exerce essencialmente pelas vias puramente simbólicas da comunicação e do conhecimento, ou, mais precisamente, do desconhecimento, do reconhecimento ou, em última instância, do sentimento” (Bourdieu, p. 7-8). Tal dominação seria exercida em nome de um princípio simbólico que seria conhecido tanto pelo dominado, quanto pelo dominador. Bourdieu acredita que nestas questões de dominação o que deve ser feito é “demonstrar os processos que são responsáveis pela transformação da história em natureza, do arbitrário cultural em natural” (BOURDIEU, p. 8)
As aparências biológicas e os efeitos, bem reais, que um longo trabalho coletivo de socialização do biológico e de biologização do social produziu nos corpos e nas mentes conjugam-se para inverter a relação entre as causas e os efeitos e fazer ver uma construção social naturalizada (os “gêneros como habitus sexuados), como o fundamento in natura da arbitrária divisão que está no princípio não só da realidade e que se impõe por