A discussão sobre o construtivismo
Para o professor do Instituto de Psicologia da USP Lino Macedo, a história é bem conhecida: estamos atrás de uma prática “salvadora”, para logo em seguida nos sentirmos decepcionados por ela. A prática, no caso, é a teoria construtivista de conhecimento, que, desde o começo da década de 80, ganha espaço nas escolas brasileiras. Um de seus propósitos é justamente o de ser uma escola para “todos” – não para uma elite –, em contraponto ao modelo da escola tradicional e conteudista do século passado. A decepção vem do fato de as crianças terem acesso à escola, mas não aprenderem. Nesta entrevista realizada, por e-mail, Macedo, especialista na Teoria de Piaget, explica as concepções construtivistas e fala sobre as distorções mais comuns relacionadas à sua teoria e prática.
Carta Fundamental: Por que o construtivismo vem sendo responsabilizado pelo fracasso da educação brasileira?
Lino Macedo: Penso que uma das razões é de ordem política e econômica. É que importantes movimentos educacionais estão ligados ao PSDB, nos âmbitos federal (governo FHC) e estadual (estado de São Paulo). Esses movimentos se referem, por exemplo, a políticas de avaliação externa (Enem, Saresp), programas de formação dos professores, reformas curriculares, produção de materiais. Muitos dos participantes dessa iniciativa, e eu me incluo dentre eles, são simpatizantes de uma visão construtivista da educação. O que seria essa visão? Reconhecer que,em uma educação para todos, é necessário considerar características psicológicas, sociais e culturais das crianças e dos jovens que, agora, estão na escola e precisam aprender. Reconhecer que é necessária uma boa formação dos professores, agora em número muito maior do que na antiga e “inesquecível” escola tradicional. Esses professores precisam de uma formação demorada, difícil, artesanal e cara. Do ponto de vista econômico, se as secretarias de Educação “dispõem” de muito dinheiro em relação às outras, o gasto é