A depressão essencial (marty, 1968)
por PIERRE MARTY
A depressão psicossomática, que por várias vezes eu havia chamado de depressão sem objeto, seria, em definitivo, melhor nomeada de depressão essencial, haja vista que traz consigo a própria essência da depressão, isto é, o rebaixamento do nível do tônus libidinal sem contrapartida econômica positiva qualquer. A avaliação clínica desta depressão deve se basear em primeiro lugar, e como de costume, sobre o modo de relação que o paciente tem para com o investigador.
O que de início não é claro, e por boas razões, mas que progressivamente vai sendo percebido na relação, é o fato de que, sobre o plano da psicopatologia clássica, esta depressão não se constitui por sintomas no sentido usual do termo, ou seja, a expressão de tendências, ou de defesas, ou movimentos interiores.
Além de certos episódios de angústia, por exemplo, se destaca ainda a instabilidade provisória desta depressão, o drama não é visível.
O investigador não se encontra incorporado em um sistema, não é nem muito rejeitado, nem mesmo fica afastado pelos mecanismos habituais das neuroses psíquicas e das psicoses. O sujeito traz seu caso quase como se se tratasse do de outra pessoa, e o psicanalista tem a impressão de que ele não entra mesmo em seu mundo, entretanto, frio de seu frente-à-frente, que é na melhor das hipóteses como um médico, no sentido o mais banal, o mais profissional do termo; apesar da posição, flexível, da investigação.
A situação não evolui com o decorrer da consulta, e o psicanalista se pergunta, evidentemente, o que ele pode fazer com tal paciente que, aliás, não demanda nada, pois sofre pouco.
A ausência de uma psicopatologia expressiva faz com que estes pacientes, seus familiares e seus médicos não advertidos, não pensem, aliás, no psicanalista. O motivo da consulta inicial é uma queixa qualquer: fadiga ou incidente somático repentino geralmente benigno. O paciente nem escolhe nem recusa consultar. Tudo se passa para ele sem