A crise da modernidade e da subjetividade privatizada
O estudo cientifico dos aspectos psicológicos só se inicia no momento histórico em que o homem se percebe ao mesmo tempo experimentando sentimentos aparentemente únicos e particulares- sensação de ser detentor de uma subjetividade privada- e esta experiência privada é questionada, entra em crise.
“Ter uma experiência da subjetividade privatizada bem nítida é para nós muito fácil e natural:todos sentem que parte de suas experiências são íntimas, que ninguém tem acesso a elas.(...) Ainda com maior freqüência temos a sensação de que aquilo que estamos vivendo nunca foi vivido por mais ninguém, de que a nossa vida é única, de que o que sentimos e pensamos é totalmente original e quase incomunicável.” (Figueiredo, 1991a:16-17)
Esta experiência de subjetividade privatizada em geral só ocorre em momentos sócio-historicos de crises, quando os valores, as normas e os costumes são questionados e surgem novas alternativas; neste processo os homens se perguntam sobre os caminhos a seguir, quais seus sentimentos, quais critérios utilizar para tomar decisões. A perda de referencias coletivas,como religião, “raça”, o “povo”, a família, ou uma lei confiável obriga o homem a construir referencias internas. Surge espaço para a experiência da subjetividade privatizada: quem sou eu, como sinto, como desejo, o que considero justo e adequado. Nessa situação o homem percebe que ele é capaz de tomar decisões que é responsável por elas.
Ao longo dos séculos as experiências da subjetividade privatizada foram se tornando cada vez mais determinantes da consciência que os homens têm de sua própria existência.
Podemos dizer que nossa noção de subjetividade privatizada data aproximadamente dos últimos três séculos: da passagem do Renascimento para a Idade Moderna. O sujeito moderno, teria se constituído nessa passagem e sua crise viria a se consumar no final do século XIX.
Por um lado a perda de um domínio sobre o homem dá uma sensação