A corrosão do carater
Espera-se que os trabalhadores sejam mais ágeis, abertos a mudanças no processo de trabalho e predispostos a assumir riscos, sem aquela cega obediência a leis e procedimentos formais da época do fordismo. Entretanto, sem a visibilidade das antigas regras, os novos controles dificultam seu entendimento, sobretudo, em relação a aspectos de subjetividade, como entender o modo pelo qual a flexibilidade age sobre o caráter[1]. Contudo, mais difícil se tornará entender como se produzem as novas subjetividades, sem um détour que leve à compreensão de como se configurou o capitalismo na sua atual fase flexível. É evidente a imensa mudança com que se dá a conhecer aos nossos olhos, mas trata-se de uma mudança aparente em sua forma. A lógica inerente da acumulação capitalista e das suas tendências de crise parece inalterada. Com efeito, é preciso considerar que se trata de um sistema dado a metamorfoses a cada época, que não se apresentam abruptamente, mas através de momentos de transição, de crises materializadas em mudanças, que prenunciam um novo regime de acumulação. Esta é a lógica capitalista, e, ao que tudo parece, vem operando desde o final do século passado, sob a nova forma flexível.
É certo que a palavra flexibilidade tem uma história. Sua origem está, no século quinze, na simples observação de uma árvore, cujos galhos se dobram ao vento, mas não quebram, sempre retornam à posição inicial. Se visto nesse sentido, o comportamento humano flexível adquire a