a corrosão do cárater
Resenhas
SENNETT, Richard. A corrosão do caráter: as conseqüências pessoais do trabalho no novo capitalismo. Rio de Janeiro: Record, 1999. 204p.
Roberto Patrus Mundim Pena
Prof. da PUC Minas, doutorando em Filosofia, Tecnologia e Sociedade pela Universidad Complutense de Madrid
O
atual discurso da Administração enfatiza a flexibilidade, valoriza o risco e a abertura para mudanças a curto prazo.
O mercado é dinâmico, impede que exista rotina. A carreira tradicional, construída, passo a passo, em uma ou duas instituições está fenecendo. A hierarquia piramidal é burocrática demais para ser decomposta e redefinida, como exige a conjuntura. Não há longo prazo. Prevalece a incerteza. A instabilidade é normal.
É contra esse estado de coisas que Richard Sennett levanta a sua voz. De acordo com o autor, o “capitalismo flexível” corrói o caráter, definido como “o valor ético que atribuímos aos nossos próprios desejos e às nossas próprias relações com os outros” (p. 10). O caráter depende da confiança, do compromisso mútuo, da lealdade – virtudes de longo prazo que são corroídas pelo “capitalismo impaciente”, pelos valores de camaleão de nossa economia, cada vez mais tolerante à fragmentação.
O livro é dividido em oito capítulos. No primeiro, cujo título é “Deriva”, o autor procura demonstrar como o novo capitalismo ataca o caráter pessoal, deixando o trabalhador à deriva, sem condições de se programar a longo prazo. No capítulo dois,
“Rotina”, discute as vantagens e desvan-
Economia & Gestão, Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 128-127, jul. 2000
tagens da rotina nas organizações, resgatando o debate entre Diderot, para quem a rotina era um “professor necessário”, e
Adam Smith, para quem “a rotina embotava o espírito”. No terceiro capítulo, “Flexível”, o autor caracteriza e critica os regimes flexíveis. No quarto, “Ilegível”, mostra por que as modernas formas de trabalho são difíceis de entender. O capítulo seguinte, “Risco”, é o mais