A Cana e a gua
De um regime de águas antes farto e de uma atmosfera litorânea cheia de vapor de águas, surgiu uma arquitetura especial, com as frentes das casas voltadas para os rios, com escadas descendo até as canoas e os botes, dentro dos quais o transporte era feito. Daí a existência de uma relação de intimidade e confiança, presente em hábitos como lavar ali as vasilhas e as roupas, no costume de se fazer retratar dentro dos botes, de tomar banhos de rio. Relação também decisiva para a alimentação, com a abundância do consumo de pescado, de camarões e siris. Aqueles eram rios sobre os quais corriam botes com moças raptadas por namorados, jangadas embaladas pelos braços dos negros no ritmo impressionante de suas canções.
Gilberto descrever as águas do Nordeste como si fosse umas das divindades da Região, assim como foi para as negras lavando seus corpos seminus, os caboclos na beira do rio fumando maconha, as Iaiá em seus ritos de passagens:
“No Nordeste da cana de açúcar, a água foi e é quase tudo. Sem ela não teria prosperado do século XVI ao XIX uma lavoura tão dependente dos rios, dos riachos e das chuvas; tão amiga das terras gordas e úmidas e ao mesmo tempo do sol.”
“A lavoura da cana no Nordeste e pode-se acrescentar, no Brasil parece ter começado nas terras de Itamaracá, à beira da água doce, como também da água salgada; das duas águas ao mesmo tempo. E quando depois se regularizou, com Duarte Coelho, foi para acompanhar as “terras vizinhas das ribeiras”.”
(Freyre, pp, 19, 20) Freyre também trás os triângulos amorosos: Casa grande, engenho e capela.
“Esses triângulos logo se tornaram clássicos: engenho, casa grande (com senzala) e capela. Eles foram quebrando as linhas virgens da paisagem, tão cheias de curvas as margens dos rios, mesmo quando povoadas de tabas de caboclos. E introduzindo, nessa paisagem desordenada, aqueles traços novos de ordem e de regularidade. A geometria da colonização agrária.”
(Freyre, p, 20,21)
Em sua peregrinação,