A ARTE NO COTIDIANO
A percepção de um leigo sobre a Arte é como uma paisagem recoberta por uma forte neblina em uma manhã de outono. Cinzento é o olhar, cinzenta é a paisagem. Aos poucos, o sol, apesar de tímido e acanhado, vai nos permitindo enxergar mais do que silhuetas. Contornos mais sólidos e significativos da paisagem começam a se delinear. Sentimos, porém não conseguimos descrever, traduzir em palavras nossa sensação. Mas, sem dúvida, a vivenciamos. Mas o por quê dessa visão turva? Será privilégio apenas de alguns ter percepção da Arte? Será dom? Virtuosismo técnico?
Formas ideais apreendidas por poucos, os ditos "artistas"? Ou será que nós é que colocamos a Arte num pedestal? Segundo Vasquez, à luz de Hegel, "a Arte sendo concebida sob o ponto de vista da idealização seria em seu conjunto uma forma de autoconsciência da idéia, uma forma destinada a ser superada, já que a verdade só se dá no mundo do pensamento abstrato." Ou seja, "a Arte seria uma manifestação sensível do espírito ou idéia, sendo feita pelo homem mas não para o homem." A visão idealizada da Arte tem paralisado os sentidos humanos e impedido a percepção dela no mundo.
O homem leigo tornou-se um observador distante das obras artísticas, passando a vê-las como algo inatingível e intocável. Distante do objeto o espectador não consegue marcá-lo, deixar a sua subjetividade. Se hoje ele tornou-se apenas um observador, essa nem sempre foi a sua condição. O homem além de observador era produtor. Criava os objetos e colocava as suas marcas de sujeito. Todo o caminho da história da humanidade e da Arte tem apontado para o homem como um ser criador. O fazer artístico acompanhou o fazer prático e utilitário, mas não reduziu o prático ao utilitário. O homem comum, o artesão, não eliminou o seu aspecto humano, subjetivo em face do objeto. Com a transformação da sociedade e dos meios de produção, o homem deixou de ter domínio do fazer artístico e do objeto como um todo.