Elogio do cotidiano: a confiança e a arte da vida social em uma comunidade amazônica.
A importância das atividades cotidianas sobre essas sociedades, justifica-se fundamentalmente por dois valores, o cuidado e a confiança tão relevantes para o julgamento das ações tanto de homens quanto de mulheres (Overing 1989a; 1989b), pois remetem à concepção do que constitui naquela sociedade um tipo aceitável de vida humana na terra. O valor dado às atividades diárias na vida desses indivíduos origina-se de uma concepção social voltada para o coletivo, onde todos são vistos sem qualquer diferenciação ou privilégio de maneira igualitária, valorizando fortemente a sociabilidade, seus próprios costumes e a reciprocidade dos laços comunitários.
Dentro do seu universo valorizam-se as habilidades necessárias a vida em grupo, a caça, a pesca, o plantio, a construção de habitações e essas atividades são as que qualificam propriamente a vida humana no que ela se define, não havendo qualquer tipo de hierarquização o status na capacidade de realizar este ou aquele trabalho considerado na sociedade ocidental degradante ou “inferior”.
Entretanto, como em outras sociedades há o aspecto de sua cosmologia que aponta que “a maior parte das capacidades necessárias ao modo de vida humano foi, no fim dos tempos míticos, encerrada em caixas de cristal, agora sob a posse dos deuses celestes Tianawa. Estes deuses protegem o mundo, assim, do uso excessivo das poderosas forças sob sua guarda, mal-utilizadas no tempo mítico”. Desse modo, os deuses seriam guardiões das demais capacidades humanas regulando as ações que atentariam contra o bem estar coletivo daquele grupo.
Nesse sentido, podemos refletir sobre a grande mola-mestra dessa sociedade que seria a capacidade do indivíduo de obter o domínio das capacidades necessárias a vida social ao mesmo tempo em que “controla seus desvios não-humanos” que os deuses resguardam. As atividades cotidianas são de tal forma o