A Ciencia Descoberta
Uma Proposta Metodológica para a Entrevista aplicada ao Jornalismo Científico*
Mariana Cunha Mesquita do Nascimento**
Para Tina Mello Gomes
Apresentação
Alguns problemas precisam ser contornados para que o jornalismo científico atinja, no Brasil, o grau de desenvolvimento que já alcançou em outros países. Um deles seria a dependência exclusiva de informações sobre ciência e tecnologia produzidas no exterior: muito do conhecimento aqui produzido é deixado de lado, sem que seja divulgado e utilizado para o proveito da sociedade. Outra dificuldade seria a tendência jornalística de se ceder ao apelo do “fantástico”, ou seja, do que está “na moda” e tem mais aceitação pelo público. Por fim, existem obstáculos que o repórter precisa transpor ao apurar informações sobre um determinado fato científico, como a maior complexidade dos assuntos a serem divulgados e o relacionamento peculiar que é estabelecido com o cientista, sua fonte de informação.
No campo da divulgação científica, criou-se uma atmosfera de temor recíproco, envolvendo tanto os repórteres como suas fontes. As dificuldades são tamanhas que ousaríamos afirmar que um repórter bem-sucedido nesta área provavelmente terá êxito ao tratar de qualquer outro assunto. As diferenças entre jornalistas e cientistas têm alimentado discussões acerca da falta de cooperação e harmonia entre ambos. Mas partilhamos da opinião de Candotti (In: Brasil, 1989), para quem não é a resistência à divulgação o maior problema, e sim as dificuldades dessa divulgação.
Neste artigo, vamos tratar justamente do momento em que repórter e fonte se encontram e se põem à prova: a entrevista1, etapa decisiva para a produção da notícia jornalística. Embora seja um instrumento fundamental para a aquisição de informações no jornalismo como um todo, quando o assunto é ciência a entrevista apresenta algumas peculiaridades que, em nossa opinião, merecem ser discutidas. *
Versão resumida do projeto