Viver Em Uma Sociedade De Consumidores
Como podemos depreender dessa extensa e, ao mesmo tempo, precisa definição, viver em uma sociedade de consumidores, a partir dessa perspectiva, significa encontrar-se imerso em uma rede de discursos, os quais operam como dispositivos de produção e manutenção dos desejos individuais acerca das mercadorias. Aponta, assim, para um modo de constituição societária, no qual a cidadania legitimada e incentivada requer a assunção de um estilo de vida em que se relacionar com os objetos, de forma descartável, se faz um pré-requisito, reduzindo-se o tempo de duração dos mesmos junto a homens e mulheres.
Ser um cidadão em uma sociedade de consumo, por conseguinte, requer uma ascese, agora não mais de caráter religioso e com vistas à salvação da alma (CAMBI, 1999), como em séculos anteriores, mas uma disciplina ascética na direção da introjeção de uma disposição psicológica para se sentir insatisfeito com os bens industrializados que se possui e da adoção de comportamentos, como comprador, que visem atenuar tal sentimento temporariamente. Entretanto, mesmo que essa última conduta seja, constantemente incentivada, pelos mais variados meios de comunicação de massa, somente poucos conseguem se manter fiéis ao padrão ideal propagado.
Como expõe o sociólogo polonês, não há possibilidade de que amplas camadas da população consigam, indefinidamente, reproduzir tal modelo de comportamento. Apesar desse axioma, efetivamente plausível, na vigência de uma política econômica neoliberal – em que os projetos de vida já não encontram as antigas redes de proteção das previdências e dos empregos estáveis (BAUMAN, 1998; BIANCHETTI, 2005) –, não poucas pessoas buscam junto a instituições financeiras e suas representantes contrair empréstimos que lhes possibilitem a manutenção de seus comportamentos de consumidores. O resultado dessa empreitada coletiva apresenta-se diariamente em noticiários nacionais e regionais, nos