Velas e velhas. lágrimas e suor
Estávamos todos tristes. No centro da sala o caixão imenso. As velas e velhas a se derreterem. As velas comemoram aniversários e choram mortes, diria o poeta. O homem, com algodão enfiado em todos os buracos, morrera de algo cuja imaginação do leitor quiser. Não vim contar acessórios, mas a essência. A sala era pequena, pouca iluminação. Ouvia-se conversas chorosas, chiados, sussurros, mas ninguém que discursasse pelo homem morto. A viúva, dependurada sobre o marido, acabara de perder seu bem maior, seu ponto fixo, sua estrela em terra de penumbra. Chorava esmorecida e inconsolável, como todas as mulheres. Os dois filhos próximos ao caixão. Um rapaz alto, de trejeitos feminis, talvez um Ulisses em matéria de Penélope. Charmoso. A garota era mais simples, vestia muitos panos. Tinha uma feição fechada, rancorosa. Mas sua face era sublime, traços leves, plumáticos. Helena de jeans. Ambos em volta do caixão. O resto da família passava rápido pelo falecido, olhavam-no. Uns comovidos, outros satisfeitos. A pequena casa estava entupindo-se de pobres. Do lado de fora alguns pirralhos descamisados rindo. Assassinaram um bandido, um cadáver adiado, como diria um outro poeta. A morte assusta a todos, todavia os pobres parecem quebrar essa máxima, estrangulá-la com seus risos sem sentido. Ela não chorava. Ela era helênica, no entanto não chorava. Eu gosto de ver mulher chorar. Ela não chorava. Isso me preocupava profundamente. Imensamente profundo. Todas as mulheres estavam chorando, ela não. Ela não chorava. Isso me inquietava como um palhaço face à plateia inerte. Mulher tem que chorar. Levantei-me de onde estava, caminhei para próximo do caixão. Falei alguma coisa com o rapaz charmoso. Falava bem. Fitei a moça, vi seus olhos helênicos, brancos, intocados com toda semântica. Branca, não como nuvem, não como leite, só branca. Apesar da roupa cobrir-lhe o corpo, vi seus seios juvenis, a graça da mocidade. Uns braços tão brancos e macios. Porque