só livro
SÓ
A MINHA MAE AO
MEU PAI
Aquele que partiu no brigue Boa Nova
E na barca Oliveira, anos depois, voltou ;
Aquele santo (que ê velhinho e já corcova)
Uma vez, uma vez, linda menina amou :
Tempos depois, por uma certa lua-nova,
Nasci eu ... O velhinho ainda cá ficou,
Mas ela disse : —« Vou, ali adiante, à Cova,
António, e volto já ... » E ainda não voltou !
António é vosso. Tomai lá a vossa obra !
« Só» é o poeta-nato, o lua, o santo, a cobra !
Trouxe-o dum ventre : não fiz mais do que o escrever...
Lede-o e vereis surgir do Poente as idas mágoas,
Como quem vê o Sol sumir-se, pelas águas,
E sobe aos alcantis para o tornar a ver !
Só
MEMÓRIA
Ora isto, Senhores, deu-se em Trás-osMontes,
Em terras de Borba, com torres e pontes.
Português antigo, do tempo da guerra,
Levou-o o Destino pra longe da terra.
Passaram os anos, a Borba voltou,
Que linda menina que, um dia, encontrou !
Que linhas fidalgas e que olhos castanhos !
E, um dia, na Igreja correram os banhos.
Mais tarde, debaixo dum signo mofino,
Pela lua-nova, nasceu um menino.
Õ mães dos Poetas ! sorrindo em seu quarto,
Que são virgens antes e depois do parto !
Num berço de prata, dormia deitado,
Três moiras vieram dizer-lhe o seu fado
( E abria o menino seus olhos tão doces ) :
« Serás um Príncipe ! mas antes ... não fosses. »
Sucede, no entanto, que o Outono veio
E, um dia, ela resolve ir dar um passeio.
Calçou as sandálias, toucou-se de flores,
Vestiu-se de Nossa Senhora das Dores : « Vou ali adiante, à Cova, em berlinda, António, e já volto
...» E não voltou ainda ! Vai o Esposo, vendo que ela não voltava, Vai lá ter com ela, por lá se quedava. Õ homem egrégio ! de estirpe divina, De alma de bronze e coração de menina! Em vão corri mundos, não vos encontrei Por vales que fora, por eles voltei. E assim se criou um anjo, o Diabo, o lua
; Ai corre o seu fado ! a culpa não ê sua ! Sempre é agradável ter um filho Virgílio, Ouvi estes carmes