historia
MINISTÉRIO DA CULTURA
Fundação Biblioteca Nacional
Departamento Nacional do Livro
MACÁRIO
Álvares Azevedo
Puff
Criei para mim algumas idéias teóricas sobre o drama. Algum dia, se houver tempo e vagar, talvez as escreva e de a lume.
O meu protótipo seria alguma coisa entre o teatro inglês, o teatro espanhol e o teatro grego:-a forca das paixões ardentes de Shakespeare, de Marlowe e Otway, a imaginação de Calderon de la Barca e
Lope de Vega, e a simplicidade de Ésquilo e Eurípedes:-alguma coisa como Goethe sonhou, e cujos elementos eu iria estudar numa parte dos dramas dele, em Goetz de Berlichingen, Clavijo, Egmont, no episódio da Margarida de Faust e a outra na simplicidade ática de sua Ifigênia. Estudá-lo-ia talvez em Schiller, nos dois dramas do Wallenstein, nos Salteadores, no D. Carlos; estudá-lo-ia ainda na Noiva de Messina com seus coros, com sua tendência à regularidade.
É um tipo talvez novo, que não se parece com o misticismo do teatro de Werner, ou as tragédias teogônicas de OEhlenschläger e ainda menos com o de Kotzebue ou o de Victor Hugo e Dumas.
Não se pareceria com o de Ducis, nem com aquela tradução bastarda, verdadeira castração do Otelo de Shakespeare, feita pelo poeta sublime do Chatterton, o conde Vigny. Quando não se tem alma adejante para emparelhar com o gênio vagabundo do autor de Hamlet, haja ao menos modéstia bastante para não querer emendá-lo. Por isso o Otelo de Vigny é morto. Era uma obra de talento, mas devia ser um rasgo de gênio.
Emendá-lo! pobres pigmeus que querem limar as monstruosidades do Colosso! Raça de Liliput que queria aperfeiçoar os membros do gigante disforme para eles de Gulliver!
E digam-me; que é o disforme? há ai um anão ou um gigante? Não é assim que eu o entendo.
Haveria enredo, mas não a complicação exagerada da comédia espanhola. Haveria paixões, porque o peito da tragédia deve bater, deve sentir-se ardente; mas não requintaria o horrível, e não faria um drama daqueles que parecem