valores da livre iniciativa
Livre iniciativa: tensão política ideológica Definir as vertentes do pensamento político é tarefa árdua. Abordagens históricas, filosóficas e jurídicas, por vezes contraditórias, sobrepõem-se umas às outras e não nos permitem alcançar uma conceituação útil. É o que ocorre, por exemplo, com o liberalismo. Para Georges Burdeau (1979, p. 44): “Assim como existe uma fé comunista que se recusa a confundir o marxismo com as deformações da era estalinista, assim, há também, no pensamento liberal, exigências que não podem ignorar a pretexto de terem sido traídas quando o liberalismo serviu de justificação ao imperialismo das classes dirigentes da sociedade industrial”.
Ausente unanimidade acredito facilitar a compreensão dos diferentes posicionamentos político-ideológicos pôr em destaque duas questões de base: i) a preponderância do indivíduo (autonomia privada) ou da coletividade (soberania popular) nas explicações dos fenômenos sociais, associando-se, à primeira, a supremacia do valor liberdade e, à segunda, o predomínio da igualdade9; ii) a possibilidade de agrupar as relações sociais em dois conjuntos distintos: relações pessoais ou existenciais e relações econômicas ou patrimoniais.
No que tange à supremacia da autonomia privada ou da soberania popular, pode-se inferir – de forma redutora, não se nega – que o liberalismo seria caracterizado pela maior importância conferida ao indivíduo e à liberdade, enquanto nas visões socializantes prevaleceriam a coletividade e a igualdade.
Por sua vez, tomando por base a crítica de Alain Touraine (2002) à sociedade contemporânea, constata-se que a tensão entre a preferência, de um lado, pelo par indivíduo e liberdade e, de outro, pela díade coletividade e igualdade manifesta-se em duas categorias diferentes de