Flor
Baixou a voz:
— Sabe qual é o plano?
— Qual?
E ele, com a boca encostada no seu ouvido:
— Você mata o serviço hoje e vamos ao cinema. bora?
Acho uma ótima mas antes de aceitar, porém, bateu na mesma tecla: — Então jura que tu não é casado, jura.
Recuou, quase ofendido: “Mas você duvida? Não te jurei umas quinhentas vezes?
Não te dei minha palavra? Parece até que você não tem confiança em mim!”. Era um namoro recente, de três ou quatro dias. bem educada e com um certo horror ao homem casado, Carmelita duvidava ainda, duvidava sempre. Acabou admitindo o cinema, com uma última condição:
— E você promete que, lá, fica quietinho, promete?
Enfiou as duas mãos nos bolsos:
— Prometo, prometo. E vamos logo que está em cima da hora!
Mas quando chegaram no Metro a Carmelita viu que era filme nacional e falou:
“Não gosto de cinema brasileiro. Não tolero!”. Cabeleira perdeu a paciência. Na porta do Metro, foi cínico e brutal:
— Você pensa que eu vim ao cinema contigo para ver fitas? Tem dó. Vamos entrar, anda. Olha que eu fico bravo contigo!
O BEIJO
Lá dentro, ele atrás da pequena, falou: “Vamos para cima”. Argumentou: “É mais discreto”. Nova resistência: “Não vou. Pra cima, não vou”. Então, Cabeleira tomou uma atitude. Segurou a moça pelo braço e falou“ Que bobagem!
Vamos!”. Sentaram-se no canto mais discreto e escuro do cinema. Uns cem segundos depois, Cabeleira resolve dar seu primeiro beijo. Agiu rápido, sem dar tempo para ela negar. Teve, então, uma surpresa. Carmelita retribuiu o beijo com um pouco de fogo.
Durante o beijo, ele sentia que as mãos dela gelavam.
Olhou para os lados, assustado, já prevendo que o alguém do cinema aparecesse ali jogando a lanterninha acusadora. Chamava, em voz baixa: “Fulana!
Fulana!”. E pedia:
— Não faz escândalo! Não faz escândalo!
Cinco minutos depois, percebendo que Carmelita estava mais ou menos recuperada, teve a iniciativa de propor: “Vamos embora, vamos?”. Saíram. E, na rua,