utopia e barbarie
Senta, que lá vem a História
Já quase no final de Utopia e Barbárie, o uruguaio Eduardo Galeano surge em cena e diz que “a História é uma senhora misteriosa”, querendo ilustrar o quanto não podemos nos arvorar de entender seus desmandos em plena atividade desta. O problema é que esta frase, de resto inteligentíssima, parece completamente em desacordo com todas as operações que Utopia e Barbárie tenta colocar em funcionamento ao longo de sua duração, onde sobra muito pouco espaço para qualquer sentido de mistério na sua narração de aproximadamente 70 anos de História.
De fato, seja no seu uso de intertítulos com nomes de capítulos, seja na forma como estrutura seu discurso, o filme de Silvio Tendler se apresenta como um resumo da história do mundo entre a II Guerra e o momento atual. Passando por momentos tão complexos e distintos como a Guerra Fria, o Maio de 68, o Vietnã, a ditadura brasileira ou as Diretas Já, o filme o faz com a rapidez e a simplicidade que talvez pudéssemos esperar do diretor que havia nos dado Glauber – Labirinto do Brasil, filme que já usava muitos dos mesmos expedientes (muitas entrevistas notáveis, arrumação cronológica e em subcapítulos, etc) para “resumir” (o termo parece especialmente adequado) algo impossível de ser resumido – no caso anterior, a obra e a figura do cineasta mais representativo da história do cinema brasileiro; aqui, a trajetória sócio-política dos momentos-chave da história recente do Brasil e do mundo.
E aí, por mais que possamos admirar a indubitavelmente longa e cuidadosa pesquisa de imagens e sons, ou a capacidade de entrevistar algumas pessoas realmente importantes desse período (como o General Giap, figura-chave do conflito do Vietnã), isso tudo acaba valendo de pouco se a utilização deste material dentro da montagem do filme resulte tão quadrada, tão discursiva. É curioso, nesse sentido, notar como Tendler usa, entre algumas