Usos da diversidade
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Os usos da diversidade
ma, quero começar apresentando uma tese, a meu ver incomum e um bocado desconcertante, que o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss desenvolve no início da sua recente coletânea de ensaios, provocadoramente intitulada (provocadoramente ao menos para um antropólogo) O olhar distanciado.'
A tese de Lévi-Strauss surgiu, antes de mais nada, em resposta a um convite da Unesco para que proferisse a conferência de abertura do Ano Internacional de Combate ao Racismo e à Discriminação Racial, que, caso vocês tenham esquecido, foi 1971. "Fui escolhido", disse ele, porque vinte anos antes tinha escrito [um panfleto intitulado] "Raça e história" para a U nesco, [no qual] afirmara algumas verdades fundamentais [Em] 1971, logo percebi que a Unesco esperava que eu [simplesmente] as repetisse. Mas, vinte anos antes, para atender às institUições internacionais, que eu julgava ter que apoiar mais do que creio hoje, eu havia exagerado um pouco minhas conclusões em "Raça e história"
A antropologia, minha ftõhliche Wissenschaft,tem se envolvido fatalmente, no curso de toda sua história (uma longa história, se partirmos de Heródoto, ou muito curta, se partirmos de Taylor), com a enorme variedade de maneiras com que os homens e mulheres tentam viver suas vidas. Em certos momentos, ela procurou lidar com essa variedade captando-a em alguma rede teórica universalizante: estágios evolutivos, idéias ou práticas pan-humanas, ou formas transcendentais (estruturas, arquétipos, gramáticas subterrâneas). Em outros, insistiu na particularidade, na idiossincrasia, na incomensurabilidade repolhos e reis. Mas, recentemente, ela se viu diante de algo novo: a possibilidade
. Talvez
por minha idade e certamente
graças a reflexões ins-
piradas pela situação atual do mundo, não gostei dessa solicitude e me convenci de que, para ser útil à Unesco e cumprir com honestidade o meu compromisso, deveria falar