Uma leitura da leitura de dez
DIVA DO COUTO GONTIJO MUNIZ
UnB, Universidade de Brasília
Como integrante da mesa redonda “História e polissemia da imagem” identifico, de imediato, meu lugar de fala: debatedora do texto
“Vozes femininas no Dez de Abbas Kiarostami”, apresentado por Célia
Toledo Lucena. Tal como a autora, também sou historiadora interpelada pelas relações entre história e imagem, história e cinema, história e gênero, história e poder, história e sentidos. Não acontece, portanto, por acaso, esse nosso encontro no presente evento, viabilizado pelo convite de expor nossas leituras acerca de tais relações, mobilizadas que somos por alguns interesses, perspectivas e experiências comuns, e também algumas históricas diferenças.
“Vozes femininas no Dez de Abbas Kiarostami”, texto lúcido e pertinentemente produzido pela autora, uma historiadora comprometida com as questões, objetos, perspectivas e desafios interpostos, contemporaneamente, ao campo disciplinar da história e aos do ofício, nas áreas de pesquisa e ensino, enredou-me de vários modos, alguns de aproximação, outros de distanciamento. Afinal, estamos falando justamente da polissemia de sentidos, das múltiplas possibilidades de leitura que qualquer imagem/texto/discurso oferece; no caso, a narrativa cinemática. O diálogo se estabeleceu porque compartilhamos a concepção de história como narrativa, como discurso, como poder, como “aquilo pelo qual lutamos, aquilo que circula, transmite, conserva, institui verdades que têm valor” (Foucault: 1984, p. 14). Uma concepção de história, portanto, cuja ênfase está no texto e na linguagem.
Nessa perspectiva, “ler” texto, a narrativa, é exercício que não descarta, como assinalado pela autora, “aprender a apreciar, a decodificar e interpretar imagens, analisando tanto a forma como elas são construídas e operam em nossas vidas como o conteúdo que transmitem e ainda as possibilidades que criam no expectador de sentir esse conteúdo”. Uma