balanço e dre
FOME DE LEITURA
Beatriz dos Santos Feres
(UNIPLI e UFF)
EM PRINCÍPIO, A LEITURA
...trabalhar com a linguagem, leitura e escrita pode ensinar a utopia. Pode favorecer a ação numa perspectiva humanizadora, que convida à reflexão, a pensar sobre o sentido da vida individual e coletiva. (KRAMER)
Ziraldo3 costuma dizer que devemos cultivar a leitura como nosso “sexto sentido”; assim como o olfato, o paladar, a visão, o tato e a audição, ela seria um recurso de apreensão da realidade, e, apesar de moldado às características de cada leitor, possibilitaria o contato do individual com o social, provocando a interação do sujeito com o outro, tornando-se, portanto, importante no desenvolvimento da integridade humana e na construção da perspectiva única que cada pessoa detém em relação ao mundo.
No entanto, não é o simples domínio do alfabeto que transforma a leitura em “sexto sentido”. Isso só acontece quando o leitor, como sujeito que age sobre o texto, lança mão de suas experiências de vida para atribuir sentido àquilo que lê, através das estratégias leitoras que domina, ou através de
Referimo-nos a Ziraldo Alves Pinto que, entre outras atividades, desenvolve a de escritor. 3
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Linguagem em (Re)vista, Ano 01, N° 001. Niterói, jul./dez. 2004
seu conhecimento prévio, e é capaz de compreender, interpretar, refletir e posicionar-se diante da realidade apreendida via ato de ler.
É disso que fala Paulo Freire em seu inesquecível “A importância do ato de ler”(1997): nossa leitura se nutre daquilo que experimentamos, observando, compreendendo, reconhecendo seu sentido, desde a infância, desde nosso quintal, desde a relação estabelecida entre percepção e emoção, desde a simples apreensão de elementos concretos à simbologia que lhes atribuímos — individual e / ou socialmente, desde nossas experiências efetivas àquelas virtuais ou imaginárias, sempre nossas, vividas internamente.