Uma Justiça além da justiça? As escolhas de Creonte e Antígona.

705 palavras 3 páginas
Os textos clássicos de autores memoráveis quais Platão, Aristóteles e outros que dialogaram com a filosofia e a justiça, acertam as contas com o teor realístico apresentado por Sófocles nas tortuosas linhas de Antígona. Dramas, prantos e tensões são alguns dos ingredientes que formam as variáveis receitas de justiça. Quantas vezes perguntamos acerca da injustiça provocada pela lei? O texto positivo parece deixar lacunas vazias. Permanece um sentimento de justiça que não foi devidamente preenchido. A utopia de uma justiça perfeita se esvai e cede lugar a uma justiça possível. Experimenta-se que lei e justiça não são necessariamente sinônimos. A justiça que está no texto da lei evoca anseios de justiça que o precedem e o superam. Há uma hermenêutica natural que oxigena o texto legal para mantê-lo vivo e atual.
O que seria a ciência despida das fantasias nutridas sob o firmamento das incertezas? O fenômeno jurídico se alimenta de sonhos. Antígona desejava somente sepultar o irmão. O que há de errado com este desejo de honrar os próprios caros? A lei emanada por Creonte a proibia. Acusado de trair a cidade, este jovem morto (Polinice) deveria ser devorado pelos abutres para servir de lição aos concidadãos. Como reagir diante desta lei de Creonte? Cabe aceitá-la ou transformá-la? Ismene, irmã de Antígona, não apenas aceitou piamente a proibição da lei, como não mediu esforços para convencer Antígona a desistir deste propósito. Qual o papel desempenhado por Ismene? A cidadã obediente às leis do seu tempo? A falha hermenêutica de enxergar além do texto positivado e encontrar elementos capazes de melhorá-lo? Sobre a reflexão, atividade preferida da filosofia, Ismene impôs a dura pedra sepulcral na qual permanece escrito até estes dias: “Não convém nem começar a buscar o impossível”. (Antígona, 90)
Derivada de uma sã hermenêutica, a lei cumpre a função social de aproximar aquilo que estava distante. Atrelada ao ideológico, a lei distancia aquilo que estava próximo. Na

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