antigona
EXEMPLO A PARTIR DA LITERATURA
Marcelo Campos Galuppo* 1
I. [...] II. A palavra tragédia (tragoidia) é formada pelas palavras tragos (bode) e oide (canto), que marca sua profunda relação com a religião grega. A referência, obviamente, é a Dionisos, o deus metamórfico que assume a forma de bode, e aos sátiros, seres mitológicos metade homens e metade bodes. De fato, em sua origem, a tragédia nasce como uma encenação sem enredo, mas pautada pela embriaguês, pelo canto e pela alegria, todos dons de Dionisos (BRANDÃO, 2002, p. 10).
Na era clássica, por volta do século V. a.C., a tragédia assume uma nova função, para além da religiosa: a reflexão sobre a pólis, os deuses e a própria condição humana. Como diz Kathrin Rosenfield: “A tragédia reflete sobre a organização social, os modos de governar e de fazer justiça e a possibilidade de conter conflitos e de encarar as contradições fundamentais da existência humana”. (ROSENFIELD, 2002, p. 09).
A tragédia pode ser caracterizada como a p assagem da boa à má fortuna, mudança essa que ocor re por causa do destino cego. No entanto, pelo menos em Sófocles, autor de Antígona, o homem é con-causador desse destino (BRANDÃO, 2002, p. 13 e p. 42). É aqui que intervém o conceito de hybris, que pode ser traduzida como desmedida. Existe uma medida para o homem. Em latim, o homem é humus, terra. Diante de um deus, infinitamente superior a ele por ser imortal, só há uma atitude possível para o homem: a humilitas, literalmente olhar para a terra, curvando a cabeça e reconhecendo que não passamos de pó. (BRANDÃO, 2002, p. 18). No entanto, o homem geralmente se esquece disso, e compara-se aos deuses. Nesse momento, o homem comete a desmedida, a hybris, que, por sua vez, provocará a vingança do