Um olhar descontinuo sobre a vida privada na colônia.
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – CAMPUS IV
DOCENTE: HELIDA CONCEIÇÃO
DISCENTE: MARCELO ROCHA
Um olhar descontinuo sobre a vida privada na colônia.
Pensar as relações humanas de intimidade e privacidade no Brasil colonial implica, antes de qualquer outra coisa, desprender-se das noções e parâmetros de vida privada que possuímos na contemporaneidade. Inicialmente devemos considerar que aquilo que a historiografia convencionou chamar de “período colonial” compreende um recorte temporal de mais de 300 anos, isso significa que não dá pra definir um único perfil de privacidade para explicar toda a colônia, e isso se torna ainda mais complexo se levarmos em conta a dimensão territorial e as especificidades regionais dessa espacialidade.
Na obra cinematográfica “Desmundo”, filme brasileiro de 2003, dirigido por Alain Fresnot, com roteiro adaptado do livro homônimo de Ana Miranda, é preciso atentar para o fato de que a trama se passa no final do século XVI, primeiro século da colonização, aí se encontra uma sociedade embrionária, em gestação, a povoação - à exceção dos nativos, verdadeiros donos da terra - é extremamente rarefeita, isso fica evidente no filme, quando apresenta pequenas povoações sob domínio luso, geralmente centralizadas por um engenho, localizando-se a dias de viajem umas das outras. As condições materiais de existência dos portugueses que pioneiramente se aventuraram nas terras do novo mundo lhes impuseram um cotidiano em nada semelhante ao que viviam na Metrópole. No texto “Família e vida domestica”, ALGRANTI (1997) afirma que:
A distância da Metrópole... a falta de mulheres brancas, a presença da escravidão negra e indígena, a constante expansão do território, assim como a precariedade de recursos e de toda sorte de produtos com os quais estavam acostumados os colonos no seu dia a dia, são apenas alguns dos componentes que levaram a transformações de práticas e costumes solidamente constituídos no