Trafico Humano
Durante um ano e meio, o jornalista Antonio Salas investigou o tráfico de mulheres e meninas na Espanha. Seu trabalho, convertido em livro e filme, serviu de base para a instauração de processos judiciais e condenação de criminosos.
Durante as investigações, você encontrou muitas brasileiras traficadas?
AS - Muitas. O Brasil é um dos melhores fornecedores de mulheres traficadas para bordéis espanhóis. Assim como para os italianos, alemães, franceses ou ingleses. Em casos graves de prostituição, como o de Riviera e Saratoga, ou da Operação Carioca, a grande maioria das mulheres prostituídas era brasileira.
Como funcionam as redes de tráfico?
AS - A maioria das meninas é aliciada em seus países de origem. Locais com poucos recursos ou que tenham passado por graves crises econômicas – como Nigéria, Brasil, Romênia, Argentina, Marrocos e Bolívia – são grandes celeiros para os traficantes. Eles se oferecem para pagar passagem e estadia. Em troca, elas assumem uma dívida que vai de 3 mil a 6 mil euros. Só quando chegam à Espanha, descobrem que devem pagar outras despesas, como alimentação e vestuário. Isso faz com que a dívida, em vez de diminuir, só aumente. Elas também são obrigadas a pagar, por exemplo, multas quando chegam atrasadas à boate ou por se recusar a atender um ciente. Os três meses de visto expiram, elas se tornam imigrantes ilegais e ficam totalmente nas mãos de cafetões. Ocorrem espancamentos, extorsões e chantagens. Ou seja: elas entram na prostituição, mas nunca conseguem sair.
As mulheres acham que vão trabalhar em algo que não seja a prostituição?
AS - A maioria sabe no que vai trabalhar, mas acredita que na Europa dinheiro nasce em árvore e que em poucas semanas poderão quitar a dívida com os traficantes e começar a mandar dinheiro para a família. Quando a mulher não sabe que o trabalho que a espera não tem nada a ver com o de dançarina, garçonete ou