Trabalhos e Deveres
“Verdadeira filosofia consiste em reaprender a ver o mundo”
(Merleau-Ponty)
Desde o fim da ditadura militar, com o processo de redemocratização do país, a filosofia vem paulatinamente ganhado espaço na educação básica brasileira, seja como conteúdo transversal como propunha a Lei de Diretrizes e Bases da Educação ou como disciplina obrigatória, conforme estabelece uma resolução de agosto de 2006, assinada pelo então presidente da república Luiz Inácio Lula da Silva.
Isso não ocorreu, obviamente, de maneira gratuita e espontânea. É, ao contrário, o fruto ainda não totalmente amadurecido da luta de organizações e movimentos espalhado pelo Brasil: filósofos defensores do ensino de filosofia para crianças e jovens, intelectuais que debateram a questão na imprensa e na universidade; associações de professores de filosofia insistentes no repudio à histórica marginalização da filosofia no sistema educacional brasileiro; sindicatos do embate com o Estado.
A imagem da filosofia foi, ao longo da história, alvo de inúmeras distorções, preconceitos e estereótipos. E talvez seja essa a causa da dificuldade em se estabelecer, mediante práticas concretas, o reconhecimento de sua importância no contexto educacional brasileiro.
Há quem pense, por exemplo, que a filosofia é uma ciência acessível apenas a um grupo seleto de mentes brilhantes ou luxo de intelectuais iluminados. Outros ainda, imaginam o filósofo como uma figura pitoresca e excêntrica distante da realidade; alguém que passa todo o tempo envolvido em divagações e devaneios inúteis, ou, como dizem freqüentemente os alunos, viajando.
A filosofia surgiu na Grécia Antiga há aproximadamente vinte e sete séculos. E este seu irromper ocorreu precisamente a partir de questionamentos e indagações comuns a todas as pessoas: de onde viemos? Para onde vamos? De que somos feitos? Segundo sua origem, a palavra filosofia significa amor à sabedoria, desejo de