Textos épicos e textos épico-líricos
Módulo 10
Análise dos poemas Ulisses, D. Dinis e comparação com o canto III dos
Lusíadas
ULISSE
S
O mito é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo –
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo.
Este que aqui aportou,
Foi por não ser existindo.
Sem existir nos bastou.
Por não ter vindo foi vindo
E nos criou.
Assim a lenda se escorre
A entrar na realidade,
E a fecundá-la decorre.
Claude Lorrain, Ulisses devolve Chryseis a seu pai, 1648
Em baixo, a vida, metade
De nada, morre.
Fernando Pessoa, Mensagem, 19.ª ed., Ática, 1997
Contextualização
Trata-se de um poema da primeira parte (O
Brasão) integrado na Mensagem:
Poema de Fernando Pessoa, escrito entre
1913 e 1934.
Esta obra contém poesia de carácter épicolírica, épica pois destaca-se o tom de exaltação heróica que percorre esta obra e a evocação dos perigos e dos desastres bem como a matéria histórica ali apresentada. E lírica porque é escrita em verso. Nesta primeira parte da obra que nos propomos analisar aborda-se a origem, a fundação, o princípio de Portugal.
O título Ulisses remete-nos para a origem de
Portugal como devendo-se a Ulisses, navegador errante, que depois da guerra de
Tróia, teria aportado em Lisboa, fundando a
Olissipo, futura Lisboa.
A origem estaria portanto num mito. Ulisses é assim o primeiro herói a desfilar na obra
Mensagem.
Fernando Pessoa considerava que Portugal encontraria na sua alma:
“ a tradição dos romances de Cavalaria”.
O que é um mito?
Narrativa oral ou escrita, com personagens ou feitos fantasiosos, que tem por base um facto real.
Constituição do poema
Em termos formais, o poema é constituído por três estrofes:
quintilhas (5 versos).
Quanto
à métrica observa-se uma variedade que se situa entre as quatro sílabas métricas e as sete.
A rima predominante é a cruzada, seguindo o esquema rimático:
ababa /cdcdc/efefe.