TEXTO ADOCAO

Caminhos Cruzados

O sistema de adoção de crianças e adolescentes no Brasil – apesar de estar longe de um modelo ideal – coleciona episódios comoventes, de destinos que se encontraram e deram origem a novas famílias. Se por um lado, a fila de crianças à espera de uma família ainda é grande, por outro, há também vários casos de pais e filhos que, sem laços biológicos, foram unidos por laços de afeto.

Hoje, cerca de 80 mil crianças vivem em instituições de apoio ou abrigos no Brasil. Desse total, 8 mil estão em condições para serem adotadas, já as outras 72 mil esperam por algum tipo de apoio ou lutam pela reinserção na família biológica, segundo dados da Associação de Magistrados Brasileiros (AMB). No Cadastro Nacional de Adoção (CNA), criado em 2008 para facilitar os trâmites legais a nível nacional, os números chamam ainda mais a atenção. Segundo um levantamento feito pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em 2011, havia 4.500 crianças cadastradas para adoção, sendo que os pretendentes eram 26.820 - uma quantidade 5 vezes maior que o número de crianças cadastradas.

A disparidade entre os números é justificada pelas exigências de perfil que os pretendentes à adoção fazem em relação à criança que procuram. A pretensão de 36,54% deles é adotar filhos brancos, todavia, quase metade das crianças disponíveis para a adoção (2.272), segundo o CNJ, é parda. Crianças brancas representam apenas 33% do total. Outro dificultador, de acordo com o CNJ, diz respeito à faixa etária, onde 59% dos pretendentes querem adotar crianças com até 3 anos de idade. Além disso, a maior parte dos pretendentes deseja adotar apenas uma criança e, segundo o cadastro, do total de crianças inscritas, 3.780 têm irmãos. Por lei, grupos de irmãos disponíveis para adoção não devem ser separados.

Para Maria Olinda Viana, Assistente Social responsável pelo Instituto São Jerônimo, que abriga crianças para adoção em Santa Luzia, as expectativas que os casais criam sobre um filho adotivo nem sempre