Terapias
[03/10/2007]
Para o psiquiatra e antropólogo Adalberto Barreto, é a partilha de experiências que aponta as possibilidades de superação dos sofrimentos do cotidiano. A comunidade torna-se espaço de acolhimento e de cuidado. Essa é a base da Terapia Comunitária - criada por ele na favela do Pirambu, em Fortaleza (CE) – tema desta entrevista ao Mobilizadores COEP. As reflexões trazidas pelas rodas de Terapia Comunitária, os fundamentos da TC e a formação dos terapeutas são alguns dos temas abordados.
Mobilizadores COEP - O que é e como surgiu a Terapia Comunitária?
R. O Centro dos Direitos Humanos da favela do Pirambu, em Fortaleza, me enviava os casos que tinham repercussão psíquica. Eu os recebia com meus alunos no Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Ceará (UFC). Com o aumento da demanda, decidi, em comum acordo com meus alunos, não mais recebê-los no hospital, mas ir até onde eles viviam: na comunidade de 4 Varas, uma das 150 comunidades organizadas da grande favela do Pirambu. Chegando lá, encontrei cerca de 30 pessoas. Todos queriam um remédio para controlar insônias, depressões, tentativas de suicídio. Logo me dei conta que não poderia medicalizar problemas da existência, onde o sofrimento emerge com força. Tratava-se muito mais de pessoas necessitando ser acolhidas, escutadas, apoiadas, do que doenças a serem tratadas. Logo precisei as razões de minha presença e disse-lhes: 'Eu não vim aqui resolver os problemas de vocês. Eu vim resolver os meus. Só que para isso eu necessito de vocês. Eu com meus alunos também viemos buscar respostas para nossas inquietações, nossos sofrimentos'. E perguntei-lhes: 'Vocês estão satisfeitos com os médicos?' A resposta foi unânime: 'Não'. 'E por quê'?' 'Porque eles não escutam a gente, estão sempre apressados...' 'Pois bem, eu vim aqui aprender a formar médicos mais humanos, mais atenciosos e mais respeitosos dos valores culturais. Eu vim me curar de minha