Temáticas em Cesário Verde
Na obra de Cesário Verde cruzam-se vários temas ou questões: a humilhação, a oposição cidade/campo, a imagética feminina e a questão social.
1.1.POETIZAÇÃO DO REAL
As deambulações de Cesário Verde, “o poeta-pintor”, quer pela cidade, quer pelo campo, permitem-lhe captar o quotidiano com objectividade e pormenor, mas também com a subjectividade própria da sua imaginação transfiguradora. O sujeito poético metamorfoseia a realidade quotidiana numa outra realidade por si imaginada. De facto, Lisboa é, no tempo de Cesário, uma cidade de con¬trastes. E ele retrata-a, realçando a arquitectura antiga e os bairros mo¬dernos, onde se instala a nova burguesia. (Num Bairro Moderno)
É na captação do real que surge a outra face da realidade lisboeta: a dos trabalhadores que denunciam a sua origem campesina.
Ao vaguear (o célebre deambular), o "eu" denuncia o lado oposto ao da grandeza, focando os lugares pobres e nauseabundos, os humildes que sustentam a cidade. Ironicamente, foca as figuras intermédias, como o "criado" de Um Bairro Moderno, ou os "caixeiros" de O Sentimento dum Ocidental. Transfigurando o que vê, capta ainda aquelas persona¬gens dúbias, como a actrizita de Cristalizações, que, tal como a ci¬dade, tentam esconder a sua condição.
Para Cesário, ver é perceber o que se esconde e, por isso, percepciona a cidade minuciosamente através dos sentidos. E o "eu" resulta da¬quilo que vê.
Na poesia de Cesário Verde, raramente os interiores são retratados, porque o "eu" está em movimento, numa cidade repleta de homens autênticos, e a sua consciência acompanha essa evolução do espaço.
Em suma, a poesia do quotidiano nasce da impressão que o “fora” deixa no “dentro” do artista.
1.2. BINÓMIO/ AINTINOMIA CIDADE VS CAMPO
Encontramos este tema num poema como Num Bairro Moderno e, duma forma mais expressiva, em O Sentimento dum Ocidental. A cidade, em Cesário Verde, deixa de ser um espaço