Tempo livre e trabalho

Para Theodor Adorno, a distinção entre tempo livre e tempo de trabalho é essencial. O primeiro, em seu significado verdadeiro, constituir-se-ia em atividades escolhidas pelo indivíduo de forma autônoma, sem a mera influência da indústria cultural, enquanto o segundo estaria relacionado à realização de tarefas que visem à subsistência. Contudo, na sociedade contemporânea, o tempo livre encontra uma localização cada vez mais restrita, no que tange ao seu real significado, já que está cada vez mais acorrentado ao trabalho, virando um apêndice deste.
Como exemplo de atividades, aparentemente ligadas ao tempo livre, que assumem o caráter de pseudoatividade na sociedade moderna, pode-se citar aquelas ligadas à espiritualidade, pois com a renovação do espírito formam-se indivíduos capazes de realizar tarefas de maneira mais produtiva. Assim como as atividades que englobam o chamado fitness possuem a atribuição de educar o corpo e, de forma menos direta, acabam por servir ao trabalho, a educação do espírito renova forças. Além disso, existe a crença (disseminada, direta ou indiretamente, entre os fiéis e praticantes de algumas religiões, em especial o protestantismo) de que, para alcançar o mundo divino, é necessário trabalhar arduamente. Dessa forma, pessoas que se sentem exploradas veem sua condição como algo que provaria o seu merecimento ao reino dos céus e à salvação.
Um grande exemplo de religiosidade atrelada ao trabalho é o protestantismo, uma vez que é uma religião burguesa de fortes bases iluministas. Assim, é uma religião que transcende a esfera meramente espiritual e prega ideias capitalistas e que valorizam muito o trabalho. Deste modo a Igreja Protestante, além da espiritualidade, também prega ideologias trabalhistas, como a dignificação do homem através do trabalho e a ideia de enriquecimento e a partir do lucro e do trabalho. Instituições como essa também nos proporcionam um padrão de comportamento a ser seguido, o que favorece a preparação do homem