Síntese da obra "Casa Grande Senzala" e "Raízes do Brasil"
A miscigenação
Em pleno apogeu das teorias racistas que imputavam a negros, índios e mestiços a razão maior do atraso nacional, o autor celebra o papel essencial das etnias dominadas na formação do país. Chega a afirmar que os negros foram mais importantes para a colonização do que seus donos. Descobre e exalta a força vital dos escravos: sua capacidade de resistência ao meio hostil e suas habilidades técnicas e agrícolas. Isso que hoje nos parece óbvio, era uma heresia em 1933.
Também o índio recebe elogios. Não se trata de um selvagem bronco e incapaz. Ao contrário, em muitos sentidos é superior ao conquistador branco. Na limpeza, por exemplo, enquanto os europeus eram sujos e repulsivos, os nativos chegavam a banhar-se dez vezes ao dia. O sociólogo pernambucano mostra os índios como vítimas, não apenas dos colonizadores, mas também dos jesuítas que teriam praticado uma espécie de extermínio indireto das populações locais.
Gilberto Freyre rompe com as ideologias racistas vigentes e canta a miscigenação como elemento chave da conquista do trópico. É o ideólogo da mestiçagem: ao se entregarem à luxúria com índias e negras, os portugueses teriam estabelecido um aspecto democratizador nas relações étnicas do Brasil. O inverso, por exemplo, dos ingleses na colonização da América do Norte.
A própria durabilidade da expansão portuguesa no Brasil é atribuída tanto ao “furor genésico”do colonizador luso, um garanhão desbragado, um tipo super-excitado sexualmente e que tinha a sua disposição os corpos das escravas, quanto a um hipotético projeto geopolítico do Estado português, preocupado com a falta de braços para a atividade colonial.
O sexo sem limites e a conseqüente mestiçagem teriam possibilitado a adaptação e o triunfo da civilização européia em meio às dificuldades oferecidas pelo contexto tropical. E ainda por cima teriam gerado um clima de abrandamento dos rigores morais católicos, fazendo emergir um