Senzala
A obra é um painel gigantesco da nossa formação. Não se trata apenas de um registro das matrizes étnicas e sociais que fundamentaram a atividade exploratória no país, e sim de uma espécie de romance do Brasil pré-capitalista. Com legítima vocação de romancista, o sociólogo Gilberto Freyre pesquisou infinitas fontes primárias, leu tudo: relatos de viagens, diários de senhores de engenho, sermões, cartas comerciais e privadas, estatísticas médicas, milhares e milhares de documentos aparentemente inúteis. Com a maior sem cerimônia, penetra na vida cotidiana dos séculos passados, surpreendendo num bilhete de alcova ou num registro testamentário a mentalidade da época. Descreve os ambientes, os modos de existência familiar, a rotina de um sistema que, além de sua órbita econômica, sedimentou os valores mais profundos da civilização brasileira, pelo menos durante três séculos.
Em nenhuma outra língua existe trabalho tão minucioso, tão copioso em informações. Lemos Casa-Grande e Senzala como quem lesse uma grande obra narrativa. Para isso contribui a habilidade verbal de Freyre que estabelece o que, em literatura, se chama estilo. Ele tem um estilo